O cinema criou termos para
designar a importância dos atores . É uma classificação que estabelece uma
hierarquia nos papéis dos participantes de uma obra cinematográfica.
O primeiro deles, e o mais
importante é o protagonista. O protagonista é o personagem principal, o herói. Ele
luta e vence a luta, ele disputa a garota e fica com ela, ele atira, acerta e não leva tiros e sempre termina numa situação confortável. O mundo
da ficção gira em torno do protagonista.
Logo depois vem o coadjuvante. O
ator coadjuvante é responsável por dar suporte ao ator principal, o
protagonista. É um ator secundário, de
menor importância.Ele representa alguém que passa a bola, mas nunca faz o gol. Vai para a
guerra, mas não elimina o inimigo principal. Ele apresenta a garota ao amigo,
mas o amigo é quem termina com a garota. O coadjuvante existe em função do
outro.
Finalmente existe o figurante. O
figurante também participa do filme, ele está na cena, veste-se com um figurino
e anda de lá para cá, mas não é
percebido. Ele está ali para compor o
cenário, mas não interfere na cena em nada. O figurante é ainda menos
importante que o coadjuvante e não passa de um detalhe diante do brilho do protagonista. Ele não fala, não reclama, não opina, não decide
nada. O figurante é um elemento quase sem importância em um filme.
Na vida real, existem relações
que se comparam ao cinema. As escolhas, os traumas, os medos levaram homens e
mulheres a desempenharem papéis de protagonistas, coadjuvantes ou meros
figurantes.
Numa relação onde o marido ou a esposa,
isoladamente, são os astros da casa existe apenas um protagonista. O
protagonista do lar impõe as idéias, decide sobre os rumos do relacionamento, exige
mudança nos comportamentos, quer que o seu prazer tenha prioridade e está sempre no foco desta
relação. O protagonista do casamento é
sexualmente bem sucedido, afinal ele é o protagonista, e os protagonistas são
aqueles que vencem no final.
Já os coadjuvantes da família, recebem
os amigos e servem as bandejas, ouvem os
elogios sobre o parceiro ou parceira e
com um sorriso amarelo concordam com o que foi dito. O coadjuvante da relação
vive em função do outro. Tudo está bem se o outro está bem. O coadjuvante desiste
do sonho profissional para acompanhar o
protagonista da sua vida e, sexualmente
falando, o coadjuvante não tem primazia no prazer, se foi bom para ele
ou ela, curte-se a frustração em silêncio.
Eu não deveria perder tempo com
os figurantes, afinal não sabemos seus nomes ou endereços. Nas famílias ainda
existem alguns. Maridos anônimos e esposas desconhecidas. São indivíduos que nunca
aparecem nas festas, nos encontros sociais, nas reuniões de amigos e pior, não
parecem em seus próprios casamentos. Eles não têm nome, são conhecidos
como Meu marido, dona encrenca, o chefe,
a Patroa. Onde está sua esposa? Ficou com as crianças, é a reposta. Seu marido
não veio? Ele não gosta destes eventos,
prefere ficar em casa. Ninguém conhece o
esposo da secretária ou a mulher do simpático porteiro. Desconhecidos,
desimportantes, não passam de elementos para compor o cenário conjugal. Não se
tem notícia se existe intimidade entre este casal, assim não possível falar em
realização sexual.
Gosto de um filme infantil
produzido alguns anos atrás: Os incríveis. Uma
animação de Hollywood em que todos os membros da família eram
protagonistas. Juntos eles perdiam e
venciam. Lamentavam e comemoravam um ao lado do outro, complementavam seus poderes
com o objetivo de atingir seus objetivos. Cada um com sua característica
colaborava para o sucesso da família super-poderosa.
A vida deveria imitar a arte para
corrigir alguns desvios reais. Na relação
conjugal, não pode existir figurantes ou coadjuvantes. Os dois
são heróis, são atores principais do casamento, são parceiros e
cúmplices, comparsas e inseparáveis protagonistas. Os elogios são para o marido e para
a esposa. Os dois enfrentam juntos a glória e a derrota. Estão sempre juntos na
igreja, nas festas, no restaurante e no prazer. Dependem um do outro e servem
um ao outro. No filme da existência são
socialmente úteis, satisfeitos sexualmente, maduros diante das frustrações,
colaborativos e gregários. Perdem juntos, ganham juntos, sofrem juntos, gozam
juntos.
São, do dia-a-dia, do palácio ou da palafita, torcedores do
Paysandu ou do Vitória, camelôs ou funcionários públicos, tímidos ou
extrovertidos, são do interior ou da capital, mas são, devem ser, na relação conjugal,
Ele e ela, Super Heróis.