Há alguns dias atrás eu assistia
uma entrevista do cantor e compositor Gonzaguinha. Na ocasião ele foi
perguntado sobre o fato de ser uma celebridade. Sobre isso, ele disse algo que
me fez refletir sobre minha identidade: " Como pessoa, eu sou mais
útil".
Eu comecei a pensar nas
identidade que eu já assumi, afim de cumprir uma função profissional, social ou
religiosa. Quantas vezes eu fui apenas um professor, um crente, um vizinho ou displicente
colega de turma. Não que qualquer um,
não seja inevitavelmente estas coisas, mas o problema está em ser unicamente estas
coisas.
Além de mim, existem os políticos
profissionais, os sacerdotes profissionais ou os profissionais
profissionais.
Indivíduos que abandonam a suas personalidades, suas
humanidades, para se tornarem ícones de uma função ou instituição.
Não choram, se coçam ou têm
insônia. Não cheiram mal, dão risadas ou
contam piadas. Se resumem a cálculos,
sermões e entrevistas. Não ousam assumir fraquezas ou vontades pessoais. Super homens e super mulheres sempre
triunfalistas, inacessíveis ao erro
ou à vida comum.
O problema mesmo é quando o
profissionalismo contamina membros da família. Aí você encontra pais ou mães,
que abandonaram o status de pessoas e assumira o único papel de genitores.
Conheço algumas mães que deixaram
de ser pessoas. Eram boas amigas, se
relacionavam, tinham sonhos, eram gente boa.
Mas a maternidade, uma indiscutível bênção, reduziu a pluralidade pessoal destas mulheres
e elas foram transformadas simplesmente em mães profissionais. Sem vida social
ou projetos para o futuro. Seus
destinos se resumem em cuidar dos filhos até que eles deixem de existir.
Preciso cuidar em permanecer sendo pessoa. Em casa ou no trabalho. Na
igreja ou no bairro. Minha família precisa me enxergar como pessoa que erra e
acerta e que tem outras atividades e aspirações. Meus colegas de trabalho
precisam me enxergar como alguém como nome, sobrenome e que gosta de feijão com cuscuz.
Minha pessoalidade não pode
sucumbir ao meu profissionalismo, paternidade ou função eclesiástica.
Preciso ser gente, afinal como
disse o poeta, como pessoa, eu sou mais útil.