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domingo, 27 de setembro de 2009

Bateria na igreja.


Sempre houve algo que me incomodou na maneira como minha igreja louvava. Tinha a impressão que faltava algo, mas nunca soube explicar exatamente o que acontecia. Acho que descobri.Cresci numa igreja pequena, minha mãe dirigia corais infantis, aprendi a gostar de música desde cedo. Quando juvenil admirava os quartetos, especialmente os Arautos do Rei. Depois vieram os grupos, Prisma, Integração, Som e Louvor, era música de qualidade, me impressionavam e influenciavam e estes grupos se tornaram referência na minha adolescência. Formávamos grupos semelhantes, uma espécie de “todos os grupos cover”. Copiávamos os arranjos, a maneira de cantar e se apresentar. Era a nossa maneira de Louvar.Enquanto isso o louvor congregacional da igreja deixava muito a desejar. Os hinos cantados repetidamente, a falta de instrumentos musicais para acompanhar, o ritmo insistentemente lento e a visível colocação do louvor em segundo plano na liturgia da igreja. Confesso que me mantinha dentro da igreja na hora do “serviço de cânticos”, por causa da vigilância acirrada dos meus pais. Depois disso tive muitas discussões sobre o formato do louvor. Eu imaginava que com músicas mais animadas, nós resolveríamos o nosso problema. Eu estava errado.Percebi que o despreparo torna o louvor superficial e sem efeitos espirituais. Percebi que se não nos preparamos espiritualmente para o louvor, pecamos por agir sem fé. Percebi que temos tornado o nosso louvor em música, quando deveríamos transformar nossa música em louvor. Nos especializamos em quartetos, conjuntos e trios e esquecemos que Deus também precisa ser louvado, e talvez preferencialmente, na assembléia dos justos e na congregação. Sl 111:1
A minha experiência com o louvor, a partir de algumas mudanças de postura, tem melhorado significativamente minha experiência com Deus durante adoração. Tenho visto, não apenas em mim, mas nos membros da minha igreja, demonstrações claras de que o louvor é um meio excepcional para encontrar-se com Deus.
A minha igreja, ao montar uma banda para o ministério de louvor, adotou entre os instrumentos uma bateria eletrônica. Há mais de um ano ela tem sido usada de maneira discreta, como deve ser usado qualquer outro instrumento. Mas percebo que alguns poucos irmãos ainda se incomodam com sua presença. Digo sua presença, porque se ela é apenas ouvida em playbacks, é aceitável, mas “pessoalmente”, continua causando comentários negativos.
Meu objetivo não é ser “advogado” da bateria, mas resolvi estudar sobre o assunto e escrever algo sobre o resultado da pesquisa. Não acho que a bateria precisa ser defendida, mas é injusto acusá-la sem o direito de defesa.

Contradição litúrgica

Nosso comportamento litúrgico se baseia em muito na maneira de adoração dos Hebreus. São comuns em nossos cultos o uso dos salmos como base para o estímulo do louvor. Imperativos do tipo: Rendei Graças (Sl 107:1), Cantai(Sl 149), Louvai(Sl 147), Adorai (Sl 99:9), Bendizei (Sl 100:4) estão frequentemente nos lábios dos dirigentes de louvor nos nossos serviços religiosos.
No entanto, os Brados (Sl 66:1) as Danças (Sl 149:3) os aplausos (Sl 47:1) e os adufes, (espécie de pandeiro quadrado revestido de pele de carneiro), (Sl 150:4) não podem ser estimulados, sob o argumento de que tais procedimentos não fazem parte da nossa cultura e portanto causariam desconforto a maioria dos adoradores. Há uma espécie de contradição litúrgica em nosso meio.
É comum ouvir que foi por uma razão cultural, que a profetiza Mirian dançou ao som de tamborins após a passagem do mar vermelho (Ex. 15:20-21). Também foi pela mesma razão, que Davi dançou freneticamente na presença do Senhor ao retornar a arca para Jerusalém. (II Sam 6:14) Concluímos portanto que, a cultura local está intimamente ligada a adoração ao Senhor. Instrumentos, músicas, e manifestações de adoração eram fruto de um coração grato e comprometido com Deus, mas os meios para fazer isto, eram obtidos a partir da cultura local a que os adoradores estavam expostos.
Numa perspectiva mais radical, deveríamos escolher, ou adoramos a Deus segundo o formato da cultura dos Hebreus e assim adotamos as danças, as palmas, os gritos de júbilo, os instrumentos de percussão, ou adoramos ao Senhor segundo o formato da nossa própria cultura, que sendo brasileira, tem raízes européias, indígenas e africanas..
O que não podemos é escolher a parte que nos é conveniente, provavelmente fruto apenas da influência européia, e descartar sem argumentos convincentes, aquilo que não se adapta no nosso conceito de adoração.Há, no entanto, uma terceira possibilidade, usar de maneira espiritual, racional e equilibrada (I Cor. 14:15) ingredientes da nossa cultura e da cultura hebraica com o objetivo único de engrandecer ao nosso Rei, sem tentar formatar um modelo único de adoração, baseado em conceitos pessoais.
A grande polêmica sobre o uso da bateria na igreja, tem se mantido pela falta de uma conversa franca, aberta e madura sobre o tema, especialmente nas igrejas locais, onde se poderiam apresentar as razões para se manter ou se retirar de vez o instrumento em questão. Enquanto cultivarmos os “achismos” fundamentados em nossa própria experiência religiosa, correremos o risco de ameaçar aquilo que menos se discute como essencial: a adoração genuína a Deus.

Texto Bíblico

Não encontramos no texto sagrado nenhuma reprovação ao uso de instrumentos de percussão na adoração a Deus. Pelo contrário, é possível encontrar inúmeros episódios onde tais instrumentos foram usados para louvar a Deus e são citados num contexto de louvor. (Ex. 15:20, I Sam 10:5-6, II Sam 6:5, Sl 68:25, Sl. 81:2, Jerem. 31:4)
Mas há aqueles que interpretam alguns textos bíblicos, onde não são mencionados a presença da percussão no louvor de templo, assim se crê que estes instrumentos devem ser evitados pela ausência de uma citação específica. Na igreja, não. Fora da igreja, sim. De acordo com esta argumentação o ambiente do templo é mais sagrado que a reunião de dois ou três reunidos em o nome de Jesus (Mateus 18:20).
Uma das interpretações é que, quando Ezequias restabelece o culto a Deus, na lista dos instrumentos que seriam usados no louvor do templo, não estavam os tambores. Segundo este argumento, o tambor foi omitido por não agradar a Deus, embora não haja esta menção. Portanto, apenas os instrumentos permitidos por Deus entraram na lista de Ezequias. No texto de II Cron. 29:25, são citados os seguintes instrumentos: “címbalos, alaúdes e harpas”. Bem, ainda que os tambores não fossem mencionados neste momento, o címbalo, um conhecido instrumento de percussão no mundo árabe, foi incluído na lista dos instrumentos oficiais do templo, naquele momento. O címbalo segundo o dicionário bíblico virtual Bibliaonline.com, era um antigo instrumento constituído por dois meios globos de metal que se percutiam um contra o outro; como pratos. Percebe-se aí a clara menção a um instrumento de percussão, Portanto parte da bateria continuava útil para a adoração a Deus na relação de Ezequias.
No entanto, não é a lista de II Crônicas que define que instrumentos devem ser utilizados no louvor a Deus. Se fosse assim nós não poderíamos usar o piano, pois ele não é citado neste rol. Deveríamos também excluir os instrumentos eletrônicos, pois apenas instrumentos acústicos foram citados e finalmente teríamos que usar de fato e literalmente, apenas a harpa, os címbalos e os alaúdes, afinal eram estes os instrumentos adotados pelos músicos naquele momento. O fato de não mencionar algo específico não significa a exclusão definitiva. Como exemplo, podemos citar a não repetição do mandamento “Não terás outros deuses diante de mim” no Novo Testamento. Embora, vários textos deixem claro a manutenção desta Lei, não encontramos este mandamento citado especificamente. Isso não significa absolutamente que este mandamento deve deixar de ser seguido pelo fato de não o encontrarmos no Novo Testamento.
Finalmente, o que temos que lembrar é que o templo construído por mãos de homens deixou de ser a morada de Deus, assim, não existe mais a divisão dentro e fora da igreja. O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens. (Atos 17:24.) Nós somos a morada de Deus (I Cor. 3:16) (Efe. 2:22). Somos os templos de Deus, assim não é que fazemos na igreja, mas o que fazemos como igreja que agrada ou desagrada a Deus. O que devemos evitar no templo, devemos evitar fora do templo, da mesma maneira, no que diz respeito a adoração, o que podemos fazer fora do templo, estamos autorizados a realizar no templo.

Espírito de Profecia

Como não poderia ser diferente, não encontraremos especificações sobre o uso deste ou daquele instrumento nos textos de Ellen White. Pelo contrário, ela afirma sobre o uso de instrumentos na adoração “Não devemos nos opor ao uso de instrumentos musicais em nossa obra”. (Testimonies, vol. 9, págs. 143 e 144)
No entanto, aqueles que discordam da presença da percussão na igreja, citam um episódio de desequilíbrio religioso ocorrido em uma reunião campal em Indiana EUA, para argumentar contra o uso deste tipo de instrumento. O texto, a que se referem é o seguinte: “Haverá gritos com tambores, música e dança. Os sentidos dos seres racionais ficarão tão confundidos que não se pode confiar neles quanto a decisões retas. E isto será chamado operação do Espírito Santo.” ME v. 2 p. 36.
O texto claramente narra uma situação de desequilíbrio religioso, ao descrever gritos com tambores, danças e música. O contexto revela que separado do Espírito Santo, o comportamento religioso torna-se desonroso a Deus. Mais uma vez, o fato de citar os tambores neste texto, não significa a ordem para o desuso em uma situação de equilíbrio espiritual, se não, teríamos que excluir a música da adoração já que ela é citada especificamente no texto de Ellen White, como sendo um sinal de afastamento do Espírito. Fosse desta maneira, a harpa, instrumento símbolo da adoração, deveria ser também evitada por ser citada em situações negativas. Se não vejamos: Labão, o tio de Jacó, um adorador de falsos ídolos, usava harpa para suas festas religiosas. (Gen 31:27) Os incrédulos, observados por Isaías, usavam bebidas alcoólicas em suas banquetes e tocavam harpas em seus festejos pagãos. (Isaías 5: 11-12) O rei Nabucodonosor, usava a harpa para o chamado a adoração da estátua erguida em Babilônia (Daniel 3:5) Apesar disto, o uso da harpa não é desaconselhado, a despeito do seu uso por pagãos.
Ao citar o episódio de Indiana, Ellen White menciona além da bateria, outros instrumentos:
“Eles possuem um Órgão, um contrabaixo, três rabecas, duas flautas, três tamborins, três cornetas e um grande surdo, e talvez, outros instrumentos que eu não tenha mencionado..., e quando atingem uma nota alta, não podeis ouvir uma palavra da congregação em seu canto, nem ouvir nada a não ser guinchos parecidos com os que são emitidos por deficientes mentais.”

Culpar os instrumentos nesta situação, nos forçaria a rever o uso de órgãos, contrabaixos, flautas e cornetas no nosso serviço de louvor. È clara a advertência da autora sobre a maneira como são usados os instrumentos e as vozes dos músicos em questão, com notas altas, sobrepondo-se às vozes dos cantores. Sua menção é quanto ao uso desequilibrado dos instrumentos, a maneira desequilibrada de cantar e não a que instrumentos estavam sendo utilizados.
Os conselhos de Ellen White quanto ao uso da música na adoração referem-se a: habilidade, cuidado, beleza, emoção e poder.
“Ergam-se as vozes em hino de louvor e devoção. Chamai em vosso auxílio, se possível, a música instrumental e deixai ascender a Deus a gloriosa harmonia em oferta aceitável” Test. Seletos Vol 1 p. 457

Opinião da IASD

Em outubro de 2004, a Associação Geral publicou um documento oficial sobre a música na IASD. A Divisão Sul americana, fez acréscimos neste documento para divulgá-lo na América sul. Seguem trechos do referido documento sobre o uso de música instrumental:

Toda música que se ouve, toca ou compõe, quer seja sacra ou secular, deve glorificar a Deus. "Portanto, quer comais quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus." (I Coríntios 10:31.) Este é o princípio bíblico fundamental. Tudo o que não atende a esse elevado padrão, enfraquecerá nossa experiência com Ele.

Toda música que o cristão ouve, toca ou compõe, quer seja sacra ou secular, deve ser a mais nobre e melhor. "Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai." (Filipenses 4:8.) Como seguidores de Jesus Cristo, que aguardam e esperam unir-se ao coro celestial, vemos a vida na Terra como um preparo para a vida no Céu e uma antecipação dela.

Devemos reconhecer e aceitar a contribuição de culturas diferentes na adoração a Deus. As formas e instrumentos musicais variam grandemente na família mundial adventista do sétimo dia, e a música proveniente de uma cultura pode soar e parecer estranha a outra cultura.

Os instrumentistas da igreja devem sempre ser estimulados a participar dos cultos de adoração, com instrumental ao vivo. Ellen White recomenda que o canto "seja acompanhado por instrumentos de música habilmente tocados. Não nos devemos opor ao uso de instrumentos musicais em nossa obra.” – Testimonies, vol. 9, pág. 143.

Deve haver muito cuidado ao serem usados instrumentos associados com a música popular e folclórica ou que necessitem de exagerada amplificação. Quando mal utilizados, concorrem para o enfraquecimento da mensagem da música.

O instrumental deve ocupar seu papel de acompanhamento, dando prioridade à mensagem. “A voz humana que entoa a música de Deus vinda de um coração cheio de reconhecimento e ações de graças, é incomparavelmente mais aprazível a Ele do que a melodia de todos os instrumentos de música já inventados pelas mãos humanas.” – Evangelismo, pág. 506.

Deve ser priorizada por orquestras, bandas e outros grupos instrumentais a apresentação de músicas que estejam dentro das recomendações da igreja e que edifiquem seus ouvintes.

A igreja deve, dentro do possível, procurar adquirir algum instrumento musical próprio para fortalecer o louvor e a formação musical.

O documento oficial da IASD mundial, não propõe o uso ou o desuso de qualquer instrumento específico. Propõe, no entanto, a coerência, o equilíbrio, o bom senso e orienta que a música não deve ser motivo de discussões ou atitudes radicais, mas que deve-se o buscar pelo padrão divino guiados pelo amor e oração e não pela imposição.


No dia 5 de setembro de 2005, o Pastor Jan Paulsen, presidente mundial da igreja adventista, concedeu uma entrevista ao programa Let´s Talk, do Hope Channel, canal da Igreja Adventista na Austrália. Quando perguntado sobre o tipo adequado de música usado na igreja ele respondeu:

“É uma questão cultural. E penso que não existe uma resposta simples para isto. Existem algumas músicas que não pertencem a uma vida de adoração Nós estamos acostumados a uma música clássica, no entanto, temos que reconhecer que existe um número enorme de nossos membros, particularmente os jovens, que estão comprometidos de maneira significativa e expressam sua adoração e testemunho através de uma música mais moderna.”

Quando questionado sobre sua opinião quanto ao uso de bateria na igreja ele respondeu:

“Concordo, onde o instrumento for aceitável”

Conclusão

Os instrumentos são neutros. Não proclamarão benção ou maldição se não tiverem instrumentos humanos, bem ou mal intencionados a manuseá-los.
Classificar a bateria como inaceitável por causa do seu uso inadequado por indivíduos descomprometidos com Deus, seitas ou religiões de origem africana, ou buscar interpretar textos bíblicos fora do contexto, não são a base segura para o não uso deste ou de qualquer outro instrumento.
Nosso louvor hoje, é uma escola preliminar, deficiente e de longe pode comparar-se com o louvor que Deus merece.Mas é uma escola. Nossos esforços mais abnegados não nos aproximarão da música executada pelos anjos na presença de Deus. Nosso formato de adorar, poderia nos excluir permanentemente, da lista de adoradores. Mas quando há essência, Deus se agrada, não é o que fazemos, mas porque fazemos, que atrai a atenção de Deus para nossa música.


A devoção a Deus, o comprometimento com a Sua igreja e a intenção de adorar, engrandecer e honrar o Senhor do universo, deve ser o parâmetro para, não somente a escolha do instrumento, mas a escolha do estilo de vida que será a música que agrada ao Deus que nos criou.
Espero em breve, libertos desta vida de pecado, nos juntarmos ao coro e a orquestra de anjos para adorar sem reservas, e com toda sorte de instrumentos ao Rei que brevemente nos resgatará deste mundo de maldade.

“A música é de origem celestial. Há grande poder na música. Foi a música dos anjos que fez vibrar o coração dos pastores nas planícies de Belém e envolveu o mundo todo. É através da música que os nossos louvores se erguem Àquele que é a personificação da pureza e harmonia. É com música e cânticos de vitória que os redimidos finalmente tomarão posse da recompensa imortal.” – Mensagens Escolhidas, vol. 3, pág. 335.


Dicionário Larrouse 22
http://www.bibliaonline.net/scripts/dicionario.cgi
Manual da Igreja 76; revisado em 2005 CPB
http://www.musicaeadoracao.com.br/documentos/filosofia_dsa.htm
http://news.adventist.org/2005/09/worl-church-youth-wome-eee-i-church-life-miistry-paulse-says.html

2 comentários:

Otávio disse...

O nosso povo perce por falta de conhecimento, e também por pacusa dos preconceitos infindáveis.
A primeira, é da bíblia, a segunda, de um homem que as vezes pesquisa, e, pensa por si, e que diz: A bateria é um instrumento igual aos outros.
Por fim, digo que este é um ótimo texto. Bem embasado, pena, que ainda estamos discutindo sobre isso.

Anônimo disse...

já ouvistes a palestra de daniel spencer sobre musik?si naum ouviu ouça! alem disso batéria apenas causa zoada na igreja enquanto q instrumentos q soem suavemente esses sim são bons!